Isabel Pires
Dizia que sim, que sim! E
sabia perfeitamente que estava mentindo.
— Comprei umas terrinhas.
Quero plantar e colher. Não é muita terra, mas é terra boa. É lá onde meu filho
vai crescer e tomar banho de rio.
Ela ouvia, olhando longe.
— Você vai lá conhecer, não
vai?, perguntou ele, e como ela não respondesse, ele a forçou a olhá-lo,
segurando a cabeça dela com ambas as mãos, e sem mais perguntar, disse:
— Você vai lá conhecer.
Ela mexeu um pouco a
cabeça, os lábios trancados, pois queria dizer outra coisa. Mas balançou a
cabeça afirmativamente. Sim, iria. A pressão das mãos dele na cabeça dela cedeu
e ela respirou forte, piscando os olhos. Ele bebeu mais da pinga com mel e ela
aproveitou para virar bastante o rosto, observando a turma do pagode, lá na
outra mesa, pagodando com todo vigor uma história de feijoada em que entravam orelha
e rabo de porco, panela, farinha e pimenta. Ela riu um pouco escancaradamente mas
arrependeu-se logo depois, quando se lembrou de que deveria levar tudo muito a
sério. Então olhou para ele.
Ele aproximou o rosto
demais, quase tocando no dela, e subitamente enfiou os dedos indicadores nos
ouvidos dela. Puxou assim o rosto dela para junto do seu e queria morder-lhe os
lábios, as maçãs do rosto, os olhos.
Ela mordeu com força o
lábio superior dele e ele, magoado, retrocedeu. Bebeu mais. E abaixou a cabeça,
entristecido. Ela sorriu por dentro, mas logo depois arrependeu-se. Por que não
podia ser sincera com ele? Observou a força bruta que parecia saltar dos
músculos do braço do homem à sua frente. E perdoou-se a si mesma. A cabeça
dele, porém, era frágil, cheia de sonhos, inocência. Ela sentia-se uma víbora.
Quis abraçá-lo. Mas já era tarde.
— Vamos – decidiu ele,
numa voz seca.
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