Isabel Pires
De pedra-sabão, tinha uns quinze centímetros de altura por uns vinte de
comprimento. Pesado, parecia mais uma arma que um bibelô. Por curiosidade, ela
perguntou o peso. “Tudo isso?”. Espantada, mudou-o de mão. Perguntou o preço.
Nem caro, nem barato. Recolocou-o no lugar, entre corujas e cisnes também de
pedra-sabão. A vendedora ficou apreensiva.
— Não vai levar o elefantinho?
— Ainda não me decidi – mentiu.
Os olhos do elefante, esculpidos na pedra, fixavam-na. Ela disfarçou o
quanto pôde, e, de um bote, atirou-se para fora da pequena loja. No entanto,
precisava daquele bibelô. Em casa, reservava lugar para ele, na estante, entre
outros bibelôs. Dia seguinte, retornou à loja. Foi direto aos artesanatos de
pedra-sabão. Empalideceu, estacando diante de corujas que a olhavam de
esguelha.
— Já escolheu? – quis saber a moça ao seu lado, perseguidora.
— O elefantinho que estava aqui ontem?... Foi vendido? – ela apontava
para um vago lugar, entre dois cisnes.
A vendedora abriu um sorriso claro e asseado.
— Um momento – pediu. Voltou com o pesado objeto, depositando-o com
cuidado nas mãos dela. – Alguém o havia reservado. Mas como você está mesmo
interessada...
Ela virava e revirava o elefantinho em suas mãos, com medo e alegria. “É
ele”, pensou. Súbito, seus olhos esbarraram numa das patas dianteiras do
bibelô. Mostrou-a para a vendedora.
— Está quebrada!...
A pequenina perna de pedra-sabão, sólida e frágil. Quebrada. O sorriso
claro e asseado da vendedora voltou a iluminar a pequena loja.
— Não! Veja, não está quebrada. É que, com certeza, o bloco de pedra
usado para esculpir o elefantinho não era do tamanho exato, e foi preciso
completar a perninha com um pedaço. Isso acontece demais. Mas não é defeito, de
jeito nenhum – finalizou, devolvendo a ela o objeto.
Embora colada com perfeição ao corpo do elefante, a perna evidentemente
não fazia parte dele. Fraquejando mais uma vez, porém resoluta, ela depositou o
elefantinho na prateleira, agarrando firme um cisne de pescoço longo,
desajeitado e triste.
— Ah! Vai ficar com o cisne... Também é lindo!
A vendedora, ainda sorrindo, pegou um pequeno bloco de papel e tirou a
nota.
— Quer pagar no caixa, por favor? Obrigada.
Por trás do balcão, a dona da loja fazia os embrulhos, simples e para
presente.
— Só? – perguntou, embrulhando o cisne para presente.
— Eu queria o elefantinho, mas está com a perna quebrada...
Simples, a mulher detrás do balcão falou:
— É, isso acontece. É o transporte, sabe. Esse artesanato vem de longe.
Às vezes, aqui mesmo, na loja, um ou outro acaba se partindo. Tem sempre algum
freguês desajeitado, que deixa cair alguma coisa. Que pena! – lamentou,
abanando a cabeça.
Ela tomou finalmente o embrulho nas mãos. Pesava um pouco, embora não
fosse o elefantinho. Calma e vagarosamente, saiu da loja, deixando para trás,
sem piedade, o pequeno elefante de pedra-sabão.
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