terça-feira, 24 de setembro de 2024

Blow up

Isabel Pires

Essa menina que se tirou muito a descolada. É que ia fazer uma viagem. E era tão tão pálida que todo mundo pensou ser ela de São Paulo, a grande capital. E essa menina se chamava A Menina Que Não Gosta de Salada.

Mãezinha dela dizia:

– Menina vem comer, que com essa cor de cera ninguém arranja namorado.

E ela:

Mãe, agora não dá senão perco o avião. Mas olha, prepara uma salada bem bonita pra quando eu voltar. Com alface a valer, espinafre, rúcula, almeirão, agrião e até manjericão. Mas agora me deixa ir. Está quase na hora do check-in.

Porque – depois descobriu-se – essa menina que tinha nome de natureza-morta dizia tudo por disfarce. Suas palavras descoradas, decoradas junto com a gangue, tinha um cheiro de sangue – sendo ela quase uma vampira (e, portanto, não enxergando um palmo adiante do nariz).

Mas a menina que não gostava de salada, que também tinha por nome Blitz, se dizia muito apaixonada. Por um piloto de avião. A mãe porém continuava a dizer-lhe:

– Um pouco de sangue nas faces não vai te deixar feia não. Mas vai tranquila, minha filha, é que eu não entendo pra que tanta correria.

Porque a menina – e isso, é certo, a mãe desconhecia – queria introduzir-se, como um frêmito, na cabine do avião.

Planos sanguinolentos tinha ela nos cabelos rubros balançando o vento. E a mãe, ao saber da notícia que explodiu em curto-circuito nas manchetes do dia, dançava doida. Ensandecida, dizia:

– Nunca mais alface. Deixa isso pra lá. Vou procurar aquela receita de bolo de chocolate com baba de moça, recheio de brigadeiro, enfeitado com cerejas bem vermelhas. Vou fazer mil guloseimas pra quando ela voltar. Lambuzar as mãos de doces, deixa o alface para lá. 

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