Isabel Pires
Essa menina que se
tirou muito a descolada. É que ia fazer uma viagem. E era tão tão pálida que
todo mundo pensou ser ela de São Paulo, a grande capital. E essa menina se
chamava A Menina Que Não Gosta de Salada.
Mãezinha dela dizia:
– Menina vem comer,
que com essa cor de cera ninguém arranja namorado.
E ela:
– Mãe, agora não dá
senão perco o avião. Mas olha, prepara uma salada bem bonita pra quando eu
voltar. Com alface a valer, espinafre, rúcula, almeirão, agrião e até
manjericão. Mas agora me deixa ir. Está quase na hora do check-in.
Porque – depois
descobriu-se – essa menina que tinha nome de natureza-morta dizia tudo por
disfarce. Suas palavras descoradas, decoradas junto com a gangue, tinha um
cheiro de sangue – sendo ela quase uma vampira (e, portanto, não enxergando um
palmo adiante do nariz).
Mas a menina que não
gostava de salada, que também tinha por nome Blitz, se dizia muito apaixonada.
Por um piloto de avião. A mãe porém continuava a dizer-lhe:
– Um pouco de sangue
nas faces não vai te deixar feia não. Mas vai tranquila, minha filha, é que eu
não entendo pra que tanta correria.
Porque a menina – e
isso, é certo, a mãe desconhecia – queria introduzir-se, como um frêmito, na
cabine do avião.
Planos sanguinolentos tinha ela nos cabelos rubros balançando o vento. E a mãe, ao saber da notícia que explodiu em curto-circuito nas manchetes do dia, dançava doida. Ensandecida, dizia:
– Nunca mais alface. Deixa isso pra lá. Vou procurar aquela receita de bolo de chocolate com baba de moça, recheio de brigadeiro, enfeitado com cerejas bem vermelhas. Vou fazer mil guloseimas pra quando ela voltar. Lambuzar as mãos de doces, deixa o alface para lá.
***
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