Isabel
Pires
My heart,
Sinto saudades. Não falo
de uma saudade literária, menos ainda de saudades abstratas. Creio que você
sabe muito bem o que quero dizer. Falo dessa coisa concreta que chega a doer e
que, no meu caso, deixa mais cinza o carpete sob meus pés.
Lembra da última vez
que nos vimos? Havia chovido há pouco, e havia um arco-íris com pontas que se
enterravam nos telhados de zinco dos barracos que a gente via da janela do
décimo primeiro andar, e você comentou “como é bela a paisagem”. Não pude
perceber a paisagem a que você se referia, porque, eu, só conseguia ver os
barracos. A diferença entre ver a coisa-em-si e ver para além da coisa. Quer um
exemplo literário? (já que a vida é feita de referências literárias...)
“Caímos no canapé, e
ficamos a olhar para o ar. Minto; ela olhava para o chão. Fiz o mesmo, logo que
a vi assim... Mas eu creio que Capitu olhava para dentro de si mesma enquanto
eu fitava deveras o chão” (página? ?)
Não, não estou te
cobrando os livros. Pode ficar mais um tempo com eles. É que apenas gosto
demais das ambiguidades machadianas. Tá bom, eles me fazem um pouquinho de
falta, sim, mas não estou com saudade deles não...
Ontem à noite fomos, eu
e Sassá, à casa de Carol comer lasanha, que aliás estava uma delícia. Sassá entusiasmou-se
e fez discurso em homenagem às lasanhas. Bebeu muito vinho e, como sempre,
estragou tudo. Até o discurso em homenagem à lasanha, que ele vomitou no tapete verde da sala da Carol. Digo, vomitou a lasanha, literalmente. Dá para acreditar que
ele tem amnésia alcoólica?
Continuo esperando tua
resposta sobre a nossa viagem no final do ano. A galera toda vai. A Cidinha, o
Vitinho, Neusa, Fernando, Mônica. O Eduardo, a Simone. Até o Sassá. E os dois
Gustavos. Aviso que a viagem é bem longa. Vê se dá notícias concretas. Nada de “o
que ficar resolvido tá bom”. Precisamos nos falar.
Lembra dos textos que vão
ser publicados em livro? Só de “autores inéditos”? Parece ironia. Você mesmo
disse uma vez que, à essa altura, ninguém pode mesmo ter ideias originais, e que
tudo acaba se resumindo a um interminável trabalho de copia-e-cola. Mas citar o
trabalho de um autor como se fosse de outro? A boa notícia é que o livro vai sair. Mesmo.
Ah, outra coisa:
coloquei de última hora uma epígrafe no meu texto (mais um copia-e-cola hehe!).
Depois, li um artigo que faz uma aproximação – um tanto forçada, é verdade –
entre epígrafes e epitáfios. Ai, meu texto!
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