Isabel Pires
A
rua era comprida, infinita. Durante o dia, as pessoas iam e vinham. E pareciam
sempre as mesmas, na rua comprida e estreita. Mas à noite a rua parecia se
alargar, vazia. Não se via ninguém, à exceção de raros e sombrios vultos
apressados.
Durante
o dia, ninguém parecia notar o templo. E as pessoas que passavam à noite davam
um rápido olhar em sua direção e seguiam. Mas o templo permanecia lá, imponente,
embora de paredes corroídas, cheias de limo, rachões na calçada. O templo.
Foi
construído em formato circular, ninguém sabe quando nem por quê. Parecia uma
tigela de borco. E ao pôr-do-sol sua silhueta de meia-lua se destacava contra o
céu vermelho.
A
porta principal vivia aberta de par em par. De dia e de noite. Mas ninguém
entrava ou saía. Da rua não se podia ver o interior do templo, pois como que
uma luminosidade opaca, difusa, vedava a visão. Mas ninguém nem mesmo
demonstrava qualquer curiosidade de saber o que havia lá dentro.
Durante
o dia, o templo parecia uma coisa esquecida, jogada fora. Uma coisa inútil,
ocupando espaço, bloqueando a passagem das pessoas. À noite, porém, o imenso
templo preenchia a solidão da rua.
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